Era uma vez um peixe dourado que
vivia no mar azul, próximo à beira da praia. Numa manhã de verão, ele pensou em
como seria bom voar. Nadar era quase isso, mas ele observava os pássaros lá no
alto e sentia sempre o mesmo desejo de mover-se no ar como eles. O fato é que
não poderia jamais sair da água, e isso o entristecia. Além disso, voar como – perguntava-se
ele – se morria de medo de altura? O tímido peixe evitava até mesmo aventurar-se
nas profundezas marinhas.
Quando anoiteceu, o mar estava calmo
e transparente como nunca. Dava para flutuar sob a superfície sem esforço, apenas
com leve movimento das nadadeiras e, desse modo, conseguir admirar com calma o
céu estrelado. Assim ele estava quando, de repente, uma estrela cadente de cauda longa e brilhante
cruzou o céu escuro. O dourado – que sempre ouvia falar no poder que as
estrelas cadentes têm de realizar os desejos mais impossíveis – nem pestanejou.
Simplesmente fixou os olhos naquele espetáculo de luz e encheu seu coração com
a vontade de pairar sobre a superfície e admirar o mundo lá de cima. Isso durou
um segundo, ou menos ainda, mas, sem saber bem por que, o peixe sentiu-se muito
mais leve depois. E leve foi seu sono em seguida.
No outro dia, bem de manhãzinha,
quando o sol nem havia saído direito ainda, ele já estava acordado e muito
feliz. Nem lembrava mais das noites escuras e dos mares revoltos pelos quais
tinha passado tantas vezes pensando, quase sem esperança, em como realizar o seu
desejo.
Durante aquela manhã, preocupou-se
somente em nadar, observar os corais e conseguir alguma comida. Nadou devagar
até chegar a uma enseada de águas límpidas; olhou para cima e se encantou com a
beleza dos juncos e da vegetação costeira. Insetos reluzentes voejavam entre as
muitas flores, cujos caules pendiam em arco sobre as águas. Pareciam querer
contemplar a própria beleza no espelho sereno do mar. O dourado ficou
extasiado! Talvez elas sempre estivessem lá e só agora ele as tivesse visto.
Quem sabe mesmo o peixe distraído nunca tivesse passado por ali.
E foi assim que, pela primeira vez,
o dourado avistou uma enorme e colorida borboleta. Era uma borboleta de asas
muito finas e leves, de movimentos graciosos, voando em círculos, ora mais cima,
ora para baixo, beijando a flor amarela, depois a vermelha, e aquela outra mais
ali – esvoaçante e livre! Como se o provocasse, ela fazia voltas no ar puro da
manhã, vinha e bordejava acrobacias por sobre a superfície onde ele estava –
será que o teria avistado também? – e ele podia até sentir as asas dela sob o
céu lilás e ensolarado.
O dourado ficou assim – em puro
estado de admiração – horas a fio, até que percebeu a noite crescendo. Sem se
dar conta do tempo passando, havia voado com a borboleta o dia inteiro.
Cansado, porém feliz, foi aconchegar-se na beira da praia e ficou pensando na
sua amiga vibrante até dormir.
Durante o sono, teve sonhos incomuns
para um peixe – cheios de cores, perfumes, sons e texturas que nunca antes
tinha experimentado. Mesmo sem nunca ter saído de dentro d'água, agora sabia de
verdade como era bom voar! O que ele nem imaginava é que a borboleta colorida também
teve sonhos dourados naquela noite, enquanto dormia tranquila sobre as pétalas
de um jasmim.
Texto escrito por Sandra M. de Almeida Silva, no dia 03/05/13, durante a oficina Eu, leitor criança: a aventura e o compromisso de escrever para crianças, na livraria Paulinas.
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